Ando me sentindo vazia. Preciso ser criativa a toda hora e as palavras não me vêem. Não sei quem foi que disse que uma página em branco para um jornalista é uma das coisas mais assustadoras que existem. E um desafio. Ultimamente esse desafio tem exigido demais da minha pessoa. Encaro todas aquelas possibilidades de conjunturas gráficas para as sinapses do meu cérebro e não me vem nada. Faltam-me as palavras, as sentenças, as idéias. Entrei no modo "piloto-automático". Só funciono se alguém me der as coordenadas de sobre o que preciso falar. E ultimamente tem sido os livros. Leio um capítulo, escrevo uma página. Acho um artigo interessante na internet, me obrigo a fazer um esboço de parágrafo. Eu sei que numa monografia isso normalmente é assim, mas é dureza. Sinto como se eu espremesse até a última gota da minha capacidade intelectual alguns dias. Isso porque, além de ficar horas no computador durante a noite para, tal qual um cientista maluco, criar meu frankestein jornalístico, passo horas e horas durante o dia prostrada na frente da mesma tela em busca de atualizações pro serviço. Cansa, cansa muito.
É aí que eu páro pra pensar: após todo esse esforço pra, de alguma forma, criar um sentido em tudo que eu escrevo, eu estou vazia ou estou cheia? Vazia de idéias ou simplesmente perdida na enxurrada de coisas que eu preciso pensar ao mesmo tempo?
Tem um filme que eu gosto muito em que a personagem levanta este tipo de questionamento. [Quem nunca assistiu "Antes do Amanhecer" (Before Sunrise), corra agora pra uma vídeolocadora, pois este filme definitivamente merece uma crítica.] Nele, a Julia Delpy interpreta uma estudante francesa à caminho de Paris que encontra um americano (Ethan Hawke)no trem à caminho de Viena pra voltar pros EUA.
Num dos milhões de assuntos que surgem nas milhões de conversas que eles têm no filme, ela conta pra ele que foi visitar a avó [que morava em Praga, acho] por duas semanas. Só que lá, não havia televisão nem a propaganda de consumo que ela estava acostumada. E no início, ficar lá parecia ser a coisa mais entediante do mundo, mas que depois ela sentiu uma sensação de liberdade que ela não conseguia explicar. Não havia programas pra ver, ela não tinha uma rotina pra cumprir e nenhuma necessidade de consumo pra satisfazer. Era apenas ela, o diário e os pensamentos.
É mais ou menos assim que eu me sinto em Londres: descansada e com as idéias a mil. No Brasil, tudo é um caos. Eu me sinto vazia quando na verdade estou cheia.
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